Em uma das eleições mais disputadas de sua história o Maranhão acordou em silêncio. Essa situação contrasta com a reação popular ocorrida após o resultado das eleições de 2006 quando Jackson Lago (PDT) venceu a candidata Roseana Sarney (PMDB). São Luís, naquela ocasião, virou a noite em claro em comemoração a sua suposta libertação do julgo de quarenta anos da oligarquia Sarney no Maranhão. Muita gente, da plebe e da classe média, sentia-se como ex-escravos que se aquilombavam após enroscar no pescoço do seu senhor as correntes que os aprisionavam. É claro que Jackson Lago não era um dos nossos, não era um quilombola visto que em seu primeiro ano de governo resolveu mostrar logo sua verdadeira face, a de feitor.
Jackson Lago governou contra os trabalhadores e a favor do agronegócio e isso, evidentemente, imprimiu um ceticismo muito grande naqueles que alentaram ver um governo que se diferenciasse minimamente da forma familocráta de governar do grupo Sarney. Jackson Lago pagou um preço alto, refletido no resultado dessas eleições, não só por ter enfrentado os sarney’s, mas por ter atacado os trabalhadores em seus dois anos de governo. É certo que na cassação de Jackson teve a mão de Sarney e a conivência de Lula.
No entanto segue a pergunta: por que tanto silêncio e apatia após uma vitória tão apertada de Roseana Sarney numa eleição transcorrida em um clima de suspense digno de roteiro de filmes hollywoodiano com ameaça de impugnação de candidaturas, queda de helicóptero, dois comícios (de Jackson e Roseana) marcados para o mesmo local e horário no último dia de campanha, internação de José Sarney com arritmia cardíaca, e tantos outros fatos que apimentavam ainda mais a disputa pela sucessão do governo do Maranhão?
Para nós há uma resposta, dentre outras possíveis, digna dessa pergunta: o motor político dessas eleições foi o poderio econômico. A população não se mobilizou, foi mobilizada pelo dinheiro da democracia burguesa. Milhares de mulheres, idosos e jovens tremulavam bandeiras de candidatos, raramente de partidos, nas avenidas, rotatórias, praias, etc, com a mesma apatia que presenciamos hoje no rosto da maioria dos populares com o resultado das eleições, poucos foguetes foram estourados na noite passada. Muitos estavam mais preocupados com seus “ganha pão” do que com a eleição de seu patrão-candidato, aliás, o fim das eleições representou para muitos o fim de um emprego temporário, por isso estão apáticos. Um segundo turno seria mais interessante para os mesmos, seria prorrogação por mais algumas semanas de um tipo de trabalho que em média representa mais de 3 meses de bolsa família num estado com cerca de 3 milhões de pessoas sobrevivendo abaixo da linha de pobreza. As eleições no Maranhão, e certamente no restante do país, mostrou que a democracia burguesa é mesmo uma grande ditadura dos negócios capitalistas em razão das necessidades extremas dos mais pobres.
A população do Maranhão se viu coagida pelos sarney’s e chantageada por Lula do PT. Os programas eleitorais da coligação PT/PMDB eram verdadeiras cenas de assédio moral. A população foi levada a crer que se Edson Lobão, João Alberto e Roseana Sarney não fossem eleitos não teríamos termoelétrica, exploração de gás-natural, refinaria de petróleo e nenhum dos demais mega-projetos que aqui se instalarão em razão das riquezas de nossos recursos naturais e da força de trabalho barata que temos disponível. Nos programas desses candidatos Lula e Dilma faziam exigências no nível daquelas feitas pelos seqüestradores aos parentes dos reféns. O PT mais do que nunca se associou ao banditismo político. Desta maneira até um poste sem luz seria eleito, se indicados por eles. O PC do B de Flávio e o PDT de Jackson Lago calaram-se diante dessa barbárie para não perder votos e por que são parte do projeto que a Frente Popular tem para o Brasil, o do capital. Mesmo os candidatos da chamada esquerda do PT foram eleitos dentro desse esquema, assim favoreceram também a reeleição dos sarneys.
Em razão disso não dar pra comparar, por exemplo, os 21.944 votos de Claudicéa Durans e os 17.818 de Luis Carlos Noleto, ambos do PSTU com os 1.702.085 de Edson Lobão e os 1.546.298 João Alberto do PMDB. Em termos quantitativos realmente não dar. Mas se levarmos em consideração que quase 40 mil pessoas votaram nesses candidatos que se quer tinha panfletos, tempo na televisão nem muito menos dinheiro pra fazer suas campanhas, esse sim é um fato digno de comemoração, especialmente por suas coragens, em nome de princípios classistas, de denunciar e desmascarar os candidatos da burguesia em seu próprio campo que é o das eleições. Foram 40 mil votos contra a estrutura da democracia burguesa e da cidadania dos negócios.
O PSTU gostou menos de 20 mil reais nessa campanha enquanto Roseana declarou gastar cerca de 20 milhões de reais fora os não declarados. Enquanto os modestos recursos do PSTU era para gastar com material de campanha, os de Roseana era principalmente para “comprar votos”. Faça as contas levando em conta os 1.459.792 votos que ela obteve nessas eleições e verás que cada voto do grupo Sarney custou em média 30 reais, sem contar o aparato midiático que eles tem a seu favor. Os votos no PSTU não foram comprados e nem somente conquistados, foi resultado do encontro da classe com a sua própria consciência.
Marcos Silva (PSTU) obteve mais de 10 mil votos só em São Luís, tudo isso nas mesmas condições acima descrita e sobre a pressão do chamado “voto útil” em Jackson Lago ou Flávio Dino. A esquerda socialista e todos (as) aqueles (as) que acreditaram em nossos programas tem motivos de sobra para comemorar. O resultado dessas eleições só reafirma nossas convicções de que o socialismo é a via necessária para a libertação da classe trabalhadora e as lutas sociais o campo privilegiado para a sua edificação. Um setor a mais da nossa classe encontrou-se consigo mesmo nesse processo eleitoral e se reencontrará conosco nas lutas que nos esperam mais a frente.
Com muito orgulho reafirmamos “É preciso lutar, é possível vencer!"
*por Hertz Dias (militante do PSTU e candidato a vice-governador)
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