terça-feira, 1 de março de 2011

O mapa da violência da juventude e o extermínio da juventude negra no Maranhão *


Foi lançado em Brasília, na quinta feira dia 24, pelo Ministério da Justiça, o Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil. Sob coordenação do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz o estudo demonstra o grau de extermínio porque passa a juventude negra e pobre, moradora das periferias dos centros urbanos, neste pais.

No maranhão o salto do extermínio da juventude pobre e negra foi brutal – mais de 300% de aumento da violência. O que fica explicito no próprio documento em questão:

“Observando mais atentamente as Unidades Federadas, ficam evidentes modos de evolução altamente diferenciados, com extremos que vão do Maranhão, Pará ou Ceará, onde os índices decenais se elevam drasticamente”, ... Nesse sentido, a capital do Maranhão, São Luis, sai do 23º lugar em 1998 para o 11º em 2008.

O Número de Homicídios na População de 15 a 24 anos por UF e Região no Brasil de 1998/2008 demonstra que o Maranhão saiu de 1998 de 74 homicídios para 455 homicídios em 2008, ou seja, um aumento alarmante e assustador, principalmente em se tratando da população negra, como diz o documento:

“Efetivamente, de 2002 a 2008, para a População Total:
• O número de vítimas brancas caiu de 18.852 para 14.650, o que representa uma significativa diferença negativa, da ordem de 22,3%.

• Já entre os negros, o número de vítimas de homicídio aumentou de 26.915 para 32.349, o que equivale a um crescimento de 20,2%. Com isso, a brecha que já existia em 2002 cresceu mais ainda e de forma drástica...ou seja, morrem proporcionalmente 67,1% mais negros do que brancos”.

Poderia continuar citando milhares de dados e recortes de raça/classe/gênero que só comprovariam o extermínio da juventude negra e pobre. Mas esses dados podem ser vistos no próprio documento disponibilizado – sem nenhuma vergonha na cara – pelo Ministério da Justiça.

Entretanto, isso evidentemente não causa espanto pra quem vive nas periferias do Maranhão que cotidianamente observam seus jovens sendo vitimados pela ausência completa de políticas publicas na educação, saúde, lazer, cultura, trabalho e o que mais queiramos citar.

Exceção feita, a presença sempre ostensiva dos aparelhos repressivos do Estado como a Policia que não apenas é uma das principais responsáveis diretas pelo assassinato de milhares de jovens – principalmente negros – como são responsáveis indiretos, junto a outros órgãos do Estado na medida que potencializam, a partir de inúmeros métodos, a guerra interna na periferia causando mortes e violência.

No entanto, o que é mais ridículo e trágico e assistir as desculpas esfarrapadas dos órgãos de (in)segurança, em especial do Secretário de Segurança do governo Roseana que atribui o aumento da violência ao uso e difusão das drogas. Mais uma vez – e, essa historia é antiga – se culpa a vítima pela violência que sofre.

Como já escrevemos inúmeras vezes, o Brasil historicamente tem uma política de extermínio da juventude negra que tem suas raízes na escravidão e que se funda teoricamente com o nascimento da Republica que associa princípios escravistas remanescentes da colônia e do império com o discurso raciológico, capitalista e eugenista do início da República.

Era necessário embranquecer este país fenotipicamente e isso deveria ser realizado com qualquer arma que estivesse na mão. A política era clara e habilmente manobrada para conquistar neutralidade e legitimidade.

Como já escrevi em outra oportunidade: “A equação é simples. Retira-se tudo: educação, saúde, esporte, direitos sociais, trabalho, lazer... empurra para a marginalidade....retira-lhes a identidade, o nome, a história, as referências, a dignidade e os renomeia: - bandidos. Depois disso: se mata, se extermina... se acaba com o perigo negro da juventude brasileira. Uma política que tem história e que se renova; que tem múltiplas causas e justificativas; que tem diferentes contextos e territórios. Mas o resultado final é sempre o mesmo: o extermínio da juventude negra”.

E depois ainda tem mais: se culpa as vítimas pelo seu extermínio. Antes, porque não queriam trabalhar, porque eram inferiores...hoje porque são usuários de droga....como se a fabricação, controle e organização do tráfico de droga não tivessem origem nos condomínios de luxo, na elite brasileira e nos gabinetes com ar condicionado como política social e coletiva bem definida de extermínio e incentivo da guerra interna na periferia.

A droga - na sociedade capitalista, com a forma que adquire - não é problema individual; é política coletiva e social de dominação e implantação de um projeto de país.

Precisamos, portanto, de um outro modelo de sociedade e nação, para que os jovens pobres e negros no Brasil possam realmente ter sua juventude conquistada e, assim sendo, não morram muito antes de contribuírem para a construção de uma sociedade igualitária – esse sim o real perigo que assusta as elites desse país.

* Por Rosenverck Estrela - Professor da UFMA e militante do PSTU

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