Por Claudicea Durans
Na tarde de ontem, 06 de fevereiro foi realizado um ato de protesto contra a atitude discriminatória do diretor e do coordenador de ensino do Colégio de Aplicação da UFMA- COLUN, denunciados por estudantes do curso de Artes Visuais da UFMA e também bolsistas que desenvolvem projetos de pesquisa do PIBID intitulado Arte Afro-brasileira. Estiveram presentes: DCE-UFMA, ANEL, Quilombo Raça e Classe, PSTU, Quilombo Urbano, APRUMA, CSP- CONLUTAS, alunos do PIBID, NEAB e outros.
Segundo os estudantes, o projeto estava sendo desenvolvido acerca de quatro meses na escola e no último dia 28 de janeiro foram surpreendidas pelos dois profissionais da educação com pergunta do tipo: O que tanto faziam na escola. A resposta imediata foi que ensinam arte, porém a atitude do coordenador, sem pedi licença alguma e com total tom de ridicularização foi pegar e sacudir os cabelos de uma das estudante- Wgerlice Martins- negra de cabelo black power e perguntou-lhe: “ E isto é arte?”.Diante disto, as alunas que se sentiram ofendidas, ridicularizadas em suas características, traços físicos, estéticos e também desrespeitadas em sua profissão, procuraram o DCE da UFMA e entidades do Movimento Negro para denunciar o fato ocorrido.
Para algumas pessoas não se trata de racismo, preconceito ou discriminação. Alguns que inclusive conhecem os docentes afirmam que se trata de um mal entendido e que apenas houve uma brincadeira por parte dos professores. Ora, o racismo é uma ideologia desenvolvida no século XVII, no qual as características raciais e culturais são utilizadas como forma de colocar em desvantagens um grupo sobre outro, foi isso que aconteceu no período colonial no Brasil, conhecido como mercantilismo- negros e negras foram arrancados da África, tranformados em "peças" fundamentais para a acumulação primitiva de Capital, foram coisificados durante quase quatrocentos anos de escravidão e até hoje resquícios da fatídica história permanece na mentalidade de muitas pessoas, a ponto de considerar fatos como estes naturais ou de não reconhecer as práticas preconceituosas e discriminatórias, que às vezes ocorrem de forma sutil, através de piadas, brincadeiras, chacotas.
Estas manifestações agem também de forma violenta- serve para negar a identidade negra, destruir os valores culturais, históricos e físicos. A pretensão é destruir autoestima dos negros (as), deixando suas vítimas inseguras, retraídas, sem capacidade de qualquer reação. A finalidade é dominar corpo e mente para que enfim possam dominá-los na totalidade.
No campo das relações de dominação as ideologias tem sido forte armas para dominar. No Brasil o mito da democracia racial combinado com a ideologia da miscigenação foram utilizados para negar a identidade negra, pois se não nos reconhecemos como negros, bem como acreditamos que não há racismo no país, fica difícil de lutar contra algo que não exista. Quando surgem fatos como estes as pessoas manipuladas por tais ideologias acreditam ser pura invenção, é algo para chamar atenção. Por isso o movimento negro tem uma specificidade que é ajudar na conscientização e construção de identidades, além de unificar negros e não- negros no combate a opressão. Esta é a nosso ver uma posição política- estar ao lado de um setor significativo da sociedade que historicamente vive em situações mais vulneráveis, de empobrecimento e opressão.
Desta forma, o Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, assim como as demais entidades presentes no ato se solidariza a estudante de Artes e Visuais da UFMA- a Wgerlice Martins e a todas as vítimas de opressão. Queremos tornar público que não seremos mais tolerantes com práticas como estas, visto que na UFMA casos como estes são recorrentes, a exemplo do estudante Nigeriano- do curso de Engenharia Química, Nuhu Ayuba que em 2011 foi perseguido, humilhado pelo professor José Cloves Saraiva no Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da UFMA. Naquele momento, o professor em várias situações, proferiu palavras ofensivas e estereotipadas do tipo: “tirou uma péssima nota”, “é um péssimo aluno”, “deveria voltar a África e clarear a sua cor”, “somos de mundo diferentes, aqui diferente da África, somos civilizados” e perguntou também “com quantas onças já brigou na África”. Ainda não sentido satisfeito negou-se a corrigir o trabalho do aluno, limitando-se a escrever “está tudo errado”. Neste caso específico o professor está em pleno exercício de suas funções, nenhuma sanção foi registrada contra ele.
Vários estudantes têm denunciado as práticas racistas de professores de muitos cursos, que inconformados com as políticas de ações afirmativas- cotas- estão sendo vitimas de humilhados e constrangidos em sua dignidade humana- são desqualificados em seus desempenhos, nas suas características e traços étnicos. Estes fatos são repugnantes devem ser combatidos. Não seja tolerante com tais ações, denuncie, Basta de racismo!
* militante do PSTU e do Quilombo Raça e Classe
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