Dilma chama representantes do agronegócio e dos bancos para compor ministérios
Nem começou o segundo mandato da presidente Dilma e as primeiras 
indicações do novo governo já mostram o caminho que ele tomará: o 
aprofundamento de uma política econômica que privilegia os bancos, as 
empreiteiras e o agronegócio. E quem vai pagar o pato, mais uma vez, são
 os trabalhadores e o povo pobre.
Nas mãos dos banqueiros
Contrariando o discurso de campanha, em que o PT investiu contra os 
banqueiros a fim de se contrapor a Marina Silva (Rede/PSB), e depois 
Aécio Neves (PSDB), a primeira determinação de Dilma já reeleita foi 
colocar um banqueiro no comando da política econômica. Uma sinalização 
ao mercado financeiro que seus interesses continuarão a ter 
centralidade.
O primeiro nome cogitado para assumir o Ministério da Fazenda foi 
Luiz Trabuco, presidente do Bradesco e nome próximo ao governo. Com a 
recusa de Trabuco, o segundo nome convidado foi seu colega, o diretor do
 Bradesco e ex-secretário do Tesouro no governo Lula, Joaquim Levy.
Nome de confiança do mercado financeiro, ex-aluno e próximo a Armínio
 Fraga e um dos colaboradores do programa do PSDB à presidência, Levy é 
conhecido por sua ortodoxia neoliberal. Ou seja, é o cara que faz de 
tudo e mais um pouco para garantir os lucros dos banqueiros e 
investidores internacionais.
Dizer que o nome anunciado como novo ministro da Fazenda é neoliberal
 pode parecer um tanto vago. O que de fato pensa Joaquim Levy? Vejamos. 
Em setembro último, Levy divulgou um documento sobre a situação do país e
 o que precisaria ser feito, em sua opinião, para melhorar a economia. 
Entre as propostas estão a "liberação da obrigatoriedade da Petrobras 
participar de todos os projetos do pré-sal", a defesa das concessões e 
privatizações do petróleo, as altas taxas de juros para controlar a 
inflação e, sobre relações trabalhistas, a defesa de forma explícita de 
"modificar a lei de forma que os contratos negociados entre as partes 
prevaleçam". Ou seja, em outras palavras, uma reforma trabalhista nos 
marcos do que propunha o ACE (Acordo Coletivo Especial).
O anúncio oficial da nova equipe econômica deve ocorrer na próxima 
quinta, 27, junto com algumas diretrizes da próxima gestão. Entre as 
medidas cogitadas está um duro ajuste fiscal, principalmente com um 
corte drástico entre o que é considerado pelo governo "gastos 
excessivos" do último período, como o seguro desemprego, abono salarial e
 pensões. Fala-se num corte da ordem de R$ 40 ou R$ 50 bilhões, só pra 
começar.
Nas mãos do agronegócio
Logo após Levy começar a ser aventado em Brasília, outro nome causou 
surpresa até entre integrantes do próprio governo. Parecendo uma 
daquelas notícias-piadas publicadas por sites de humor, foi noticiado 
que Dilma convidou a presidente da Confederação Nacional da Agricultura e
 Pecuária (CNA), Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura.
 Essa piada, porém, não vai ter graça para os trabalhadores agrícolas, 
sem-terras, ribeirinhos, quilombolas e indígenas.
Kátia Abreu é a principal representante dos ruralistas, líder da 
bancada dos latifundiários no Congresso e inimiga confessa do movimento 
sem-terra e da luta por reforma agrária. Combate as políticas contra o 
trabalho escravo no campo, assim como é árdua defensora das sementes 
transgênicas e da Monsanto. Um projeto de sua autoria acaba com a 
obrigatoriedade da rotulação dos alimentos com sementes geneticamente 
modificadas.
Em seu mandato em Brasília, já foi agraciada com títulos nada 
abonadores, como o "Miss desmatamento" e o "Motosserra de Ouro", dado 
pelo Greenpeace. Ironicamente, a senadora foi apontada pelo próprio 
jornal britânico Guardian, como "a parlamentar mais perigosa do Brasil",
 devido o seu posicionamento em relação às políticas ambientais.
As inúmeras pérolas proferidas por Kátia Abreu no exercício do seu 
cargo poderiam preencher um longo compêndio sobre a forma como pensam os
 latifundiários. Uma delas, contida no documentário "O Veneno está ne 
Mesa", de Silvio Tendler (veja aqui),
 afirma que "milhares e milhares de brasileiros ganham salário mínimo, 
ou nem isso e, portanto, tem que comer alimento com defensivo sim, pois é
 a única maneira de fazer alimento mais barato". Ou seja, para a futura 
ministra da Agricultura, pobre tem que comer agrotóxico. Fazer a reforma
 agrária, acabar com o latifúndio e beneficiar a agricultura familiar, 
que é quem garante a produção de alimentos nesse país, na visão de Kátia
 Abreu, não baratearia os alimentos, mas os agrotóxicos sim.
A nomeação da presidente da CNA para a Agricultura é um balde de 
gasolina na já explosiva situação do campo brasileiro, em que os 
sem-terras, pequenos agricultores e indígenas vem sendo assassinados e 
encurralados pelo avanço do agronegócio.
Para completar esse verdadeiro trem-fantasma que o governo Dilma 
monta para seu ministério, o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab 
(PSD), vem sendo fortemente cogitado para o poderoso Ministério das 
Cidades.
"Rezava uma lenda que o segundo mandato de Dilma Roussef, do PT, seria um novo governo com novas idéias", afirma o Presidente Nacional do PSTU, Zé Maria. "Mas
 se somamos os novos ministros ao aumento dos juros uma semana depois 
das eleições, ao aumento do preço da gasolina, ao ajuste fiscal que está
 sendo preparado pelo governo, temos aí um novo governo, sim, mas com as
 mesmas e velhas idéias de sempre", denuncia. 
Preparar as lutas
As indicações do futuro governo Dilma confirmam, junto com as medidas 
já tomadas como o aumento dos juros e da gasolina, os futuros desafios 
que os trabalhadores terão a partir do próximo ano. Cortes no Orçamento,
 arrocho e o avanço do agronegócio formam um quadro sombrio e reforçam a
 necessidade de preparar, desde já, as lutas para enfrentar esses 
ataques.
 





 
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