Por PSTU Maranhão
O
câncer político instalado há quase meio século nas instituições do Maranhão
atingiu um estado insuportável de degeneração
que deixa a mostra todos os seus sintomas. As ações das
organizações criminosas dos “de baixo” são expressões das da extrema pobreza do
nosso povo e das disputas políticas encarniçadas existentes nas organizações
criminosas dos “de cima”. Há farelo político espalhado para tudo enquanto
é lado.
A
oligarquia Sarney nunca esteve tão desconfortável. Já não consegue
manipular a consciência dos trabalhadores do Maranhão como se manipulam
substâncias químicas em laboratórios clandestinos. As propagandas
vinculadas na imprensa da oligarquia são para tentar maquiar o estado pútrido
desse grupo. Pouco antes de ser derrubado do poder, o imperador Dom Pedro II
usava e abusava de propagandas mentirosas em jornais e revistas da época.
Nelas, o mesmo aparecia sempre com o semblante altivo em meio à desgraça do seu
reinado, já sem apoio da igreja, dos latifundiários e do exército. No último
domingo (05/01) Roseana Sarney deu uma entrevista no jornal O Estado do Maranhão,
de propriedade de sua família, procurando pintar em cores alegres a aquarela
desbotada do seu decadente governo. Turismo e futebol figuraram como tema
central, enquanto a segurança pública foi tratada como um tema de outro
planeta.
72
detentos mortos em Pedrinhas em pouco mais de um ano, quase o dobro dos
executados por aplicação da pena morte nos EUA em 2013. Lá foi 39, segundo relatório anual do Centro de Informação da
Pena de Morte (DPIC). Em média, um detento está sendo executado por
semana no Maranhão. Isso soa entranho para o mundo, mesmo para o mundo
capitalista onde prisão nada mais é do que uma instituição política criada para
disciplinar o corpo e a vida dos trabalhadores. Sim, deve-se disciplinar, não
exterminar, assim pensam os setores mais lúcidos e civilizados da burguesia.
As
exigências da OEA (Organizações dos Estados Americanos) para Roseana Sarney
expõem ainda mais quão os órgãos do seu governo estão prestes a ter falências
múltiplas. Não é bom para os capitalistas constatar que um estado do país que
figura como sétima economia do mundo (o governo Roseana afirma que a média
maranhense é superior a nacional) tenha um sistema penal com fortes traços
medievais. Ao serem presos, os detentos não sabem se serão conduzidos
para a cela ou para a guilhotina.
O
IDH do Maranhão que figura sempre entre os piores do país está na raiz do
problema, mas é dessa raiz que esse grupo se nutre. Por isso, a
oligarquia está sem moral política para combater o crime porque não é possível
uma árvore arrancar sua própria raiz. A cada medida desesperada do seu
governo, os criminosos “de baixo” reagem com mais audácia. Ônibus queimados,
delegacias metralhadas, inocentes feridos e mortos, Força Nacional impotente,
secretário de segurança fraseológico etc. A população está em pânico, mas não
solidária ao governo. A solidariedade é
para com as vitimas dos ataques aos coletivos ocorrido no ultimo
final de semana em São Luís.
Ordenar
a PM a ocupar um inferno de concreto superlotado, o Complexo Penitenciário de
Pedrinhas, que não comporta mais nem púlpito para pregações celestiais foi mais
um tiro que Roseana deu na própria cabeça. As organizações de “baixo” mostraram
para o Brasil que quem realmente comanda o crime no Maranhão não está do lado
de dentro da “muralha”, nem os das organizações “de baixo”, nem os das
organizações “de cima”.
Jogaram
presos de facções rivais nos mesmos pavilhões, nas triagens e até nas mesmas
celas. Naturalizaram a corrupção instalada no sistema prisional e até mesmo
na Secretaria de Segurança Pública do Maranhão. Deram asas ao crime por que
achavam que assim, com os pobres divididos, seria mais fácil controlá-los.
Permitiram que o assassino do quilombola Flaviano fosse um arquivo queimado em
Pedrinhas. Esticaram demais a corda podre, desceram ao fundo do poço, e,
agora, não conseguem voltar escalando os tijolos limosos.
As
esperanças que ainda restam à oligarquia Sarney para continuar no poder são
depositadas no mesmo processo que a maior parte da Oposição do Maranhão
acredita ser possível utilizar para derrotar essa própria oligarquia, ou seja,
as eleições de outubro deste ano. Sobre esse ponto queremos travar o debate.
A
principal Oposição ao grupo Sarney se organiza em torno do grupo do ex-deputado
Flavio Dino. Esse grupo reúne fortíssimos setores econômicos e empresariais
(industriais, agronegócio, latifundiários, etc.) e políticos arquiconservadores
como o coronel da cidade de Caxias, Humberto Coutinho, o ex-prefeito de Bacabal e latifundiário Zé Vieira e
o deputado e ex-delegado de polícia Raimundo Cutrim, ambos aliados históricos
da oligarquia.
Contudo,
esse grupo não é simplesmente burguês/oligárquico, ou uma fração
burguesa/oligárquica in natura. O PC do B de Flavio Dino atrai para seu
campo político um grande número de organizações sociais e sindicais, bem como
intelectuais de classe média, além da pequena burguesia maranhense. Nesse caso,
a melhor definição para esse grupo é que conforma uma Frente Popular, ou seja,
um grupo com um programa claramente burguês, mas com grande apoio popular, tal
como ocorreu em 2006 com Jackson Lago.
Nesse
caso quem define os rumos políticos desse grupo em seu conjunto não são os que
pertencem aos grupos de maior base social (os trabalhadores e suas
organizações), mas aqueles possuem a maior base material (a fração
burguesa-oligárquica).
Para
essa fração, a oligarquia deve ser hiperdesgastada, mas não derrubada nas ruas.
Todas as suas fichas são depositadas nas eleições de outubro. A oligarquia sabe
disso, e mais, sabe que é esse tipo de Oposição que segura as organizações
populares, sindicais e camponesas para que novas jornadas de junho e agosto não
se repitam antes de outubro de 2014. Mas essa confiança tem limites.
As
jornadas de junho no Maranhão, como em todo o Brasil, ocorreu por fora das
organizações tradicionais e traidoras da classe trabalhadora. O grupo Sarney
não dará “cheque em branco” às irritações populares com seu governo
cambaleante. Prova disso está no cerco militar ao Palácio dos Leões.
A
esperança da oligarquia está, portanto, depositada na combinação de algumas
medidas de exceção para barrar manifestações de massa e, sobretudo, no viés
eleitoreiro dos grupos que se agregam em torno de Flávio Dino. Assim, a
decomposição da oligarquia Sarney só não avança para óbito político definitivo
porque à quimioterapia oportunista e eleitoreira do grupo de Flavio Dino
garante a ela alguma sobrevida.
A NOSSA APOSTA PRINCIPAL É NA MOBILIZAÇÃO PERMANENTE DA
CLASSE TRABALHADORA
É
notório que o PSTU cresceu nos últimos anos entre os trabalhadores e a
juventude do Maranhão. Por mais que a pequena burguesia e a direita tente nos
jogar na vala comum de seus partidos, a vanguarda de nossa classe está
aprendendo na experiência da luta real que nós somos diferentes, apesar de não
sermos infalíveis.
Em
todas as frentes que atuamos, sobretudo na CSP CONLUTAS e suas entidades, o
nosso partido não mede esforços tocar a luta. Contudo, sabemos que todo partido
revolucionário deve encarar a realidade de frente. Não somos uma organização
que dirige carro no escuro com faróis apagados.
Somos
ainda muito pequenos e sem base social suficiente para impor uma queda à
oligarquia Sarney. Essa decisão não depende de nossos desejos e nem muito menos
de nossas frases e consignas, mas da realidade objetiva do nosso estado (e essa
condição está dada com crise social e política) e da subjetividade da nossa
classe (mais ou menos dada, pois a indignação, mas sem mobilização
política ) e de um partido com forte influencia de massa, o que ainda não
somos.
Entendemos,
porém, que todos esses processos tendem a avançar. A tentativa de relocalização
de muitos políticos e grupos econômicos em torno de Flavio Dino atestam um mal
estar socioeconômico e político geral em nosso estado. Grupos burgueses e
oligárquicos não dão giros políticos a toa.
A
tentativa de eleger Flavio Dino em detrimento da derrubada do grupo Sarney nas
ruas é parte de um projeto que visa apenas readequar em novas bases a dominação
de classe em nosso estado. No que pese as intenções “humanitária” de
Flavio Dino, a estrutura fundiária continuará intocada, os grandes grupos
econômicos continuarão sugando nossas riquezas e aprofundando a miséria do
nosso povo e a violência não cessará.
O
grupo de Flavio Dino não terá como apresentar um programa classista para o
Maranhão por que sua base material fundamental não está entre os trabalhadores
e os camponeses, e isso já ficou bem claro nas eleições de 2010. Em 2014 Flávio
Dino estará mais a direita.
Isso tem a ver com o
silêncio que mantém em torno da consigna “Fora Roseana Sarney”. De maneira
geral a burguesia não ocupa as ruas para derrubar governos burgueses, ainda que
sejam governos desgastados e antipatizados pela própria burguesia. Isso só
poderá ocorrer mediante a ameaça de tomada de poder pelos trabalhadores. O PSTU
também tem candidato para as eleições de 2014, Saulo Arcangeli, mas não vamos
subordinar nossas lutas às eleições burguesas.
A nota lançada por
Flávio Dino sobre o sobre a crise da oligarquia é, no mínimo,
complacente. Ao invés de convocar população e os movimentos às ruas,
Flavio Dino propõe “a constituição de um Gabinete de Crise, com a participação
de todas as instituições do sistema de Segurança e de Justiça, juntamente com a
sociedade civil (por exemplo: Judiciário, Ministério Público, OAB, SMDDH,
Defensoria Pública, Polícias estaduais, Polícia Federal, Guarda Municipal,
Forças Armadas)”. Infelizmente setores do PSOL do Maranhão coadunam dessa mesma
posição ao defender intervenção federal como uma saída para a crise. É preciso
lembrar que foi uma intervenção federal que levou Sarney ao poder em 1965 e que
as Forças Armadas são braços dos poderosos e seus governos.
O
PSTU acredita que já passou da hora da classe trabalhadora ajustar as contas
com o grupo Sarney. A consigna “Fora Sarney” que ecoou pelo Maranhão em
junho e em agosto de 2013 deve ser retomado com mais força e com um programa
classista para pôr abaixo esse grupo. Defendemos que os trabalhadores governem
a partir da formação de conselhos populares em pólos de todas as microrregião
do estado. Para isso é necessário que confiem em suas próprias forças e não
esperem outubro chegar, pois oligarquia está podre, mas não será
derrubada pelo vento.
Fora Roseana Sarney e toda a
oligarquia!
Por um governo dos Trabalhadores com
formação de conselhos populares no campo e na cidade!
Confisco de todos os bens da
oligarquia !
Mais verbas para Educação, Saúde,
Moradia e Transporte.
Desmilitarização e unificação da
policia
Suspensão de todos os despejos
forçados no campo e na cidade!
Reforma agrária sobre o controle dos
trabalhadores!
Imediata titulação das terras dos
quilombolas
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