segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO, TIRE AS MÃOS DO CAIXÃO DA PROFESSORA IOLE CUTRIM

Ontem (23/12/2023), no velório da professora Iole Cutrim, fomos informados de que, de acordo com laudo do Instituto Médico Legal (IML), a causa da morte dela se deu em decorrência de uma parada cardíaca, provocada pela falência múltipla dos órgãos, ocasionada por uma crise aguda de diverticulite.  

Não! Nossa aguerrida professora não foi apenas vítima de uma patologia clínica como, tecnicamente, atesta o laudo do IML. Não podemos ler o texto, desvinculando-o do contexto. A morte da professora Iole foi uma consequência direta da falta de respeito, responsabilidade, compromisso e humanidade por parte do Governo do Estado do Maranhão que, há anos, vem violando uma série de direitos dos(as) professores(as) e, com isso, provocando uma brutal precarização em nossa carreira.

A história de Iole se confunde com a de centenas de professoras. Mulher de origem pobre, mãe solo que, desde sempre, enfrentou uma série de dificuldades para sobreviver e criar seu único filho, dignamente. 

Há alguns anos, a professora Iole foi diagnosticada com diverticulite. Desde então, recebeu orientação médica para fazer, regularmente, uma dieta alimentar à base de legumes cozidos, frutas, carnes brancas e, também, fazer uso de alguns medicamentos. Concomitantemente a isso, ela deveria ter um acompanhamento médico regular e realizar exames periódicos. 

Ora, a questão é que todos sabemos que um tratamento dessa natureza requer as mínimas condições financeiras. Condições essas que a professora Iole não tinha. E todos os que estavam mais próximos dela, que conviviam com ela, também sabiam da enorme dificuldade que Iole tinha para sobreviver com o rendimento de professora da rede pública estadual. 

Se o Estado tem grande responsabilidade sobre isso? É claro que sim. Nos últimos anos, o Governo do Estado do Maranhão tem praticado um verdadeiro estelionato contra os professores e as professoras: não cumprido com a Lei do Piso Nacional (hoje todos os professores da rede têm um vencimento base abaixo do piso salarial nacional); descumprindo com a automaticidade das progressões; não efetivando as titulações no tempo legal; atrasando no pagamento dos precatórios etc.

Portanto, não é difícil de se compreender que, caso esses direitos dos(as) professores(as) tivessem sido respeitados e cumpridos, as condições financeiras da professora Iole seriam melhores e, consequentemente, ela teria tido a possibilidade de, ainda, continuar fisicamente entre nós.

A mesma responsabilidade cabe também à direção do SINPROESEMMA que, ao longo dos anos, tem funcionado apenas como um escudo dos interesses dos governos de plantão, dando “as costas” para a nossa categoria.

Assim, a morte da professora Iole Cutrim, não foi uma mera fatalidade ou uma consequência natural. Ela foi vítima da ação e omissão dos agentes públicos e políticos. 

Basta saber que, todos os dias a professora tinha que acordar às 4 horas da manhã e percorrer 24 km de ônibus para poder se deslocar da sua casa até a escola em onde trabalhava, sem, no entanto, ter direito a GRATIFICAÇÃO POR DIFÍCIL ACESSO, prevista no Art. 38 do Estatuto do Magistério.

Portanto, os mentecaptos políticos que por ação ou omissão são responsáveis por este estado de coisas, não são dignos de segurar no caixão da professora Iole Cutrim.


Prof. Marcelo Pinto