segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Claudicea quer ser no Senado a voz do protesto do povo do Maranhão

A professora Claudicéa Alves Durans, candidata a senadora pelo PSTU, explicou que a sua candidatura tem o propósito de servir de instrumento para fortalecer as lutas concretas dos trabalhadores e da juventude. Maranhense de São Luís, que fez a graduação no curso de Pedagogia e Mestrado em Educação pela Ufma, Claudicéa prega a elaboração de “um programa socialista de enfrentamento ao governo Lula (PT), a Roseana Sarney (PMDB) e à oposição de direita (PSDB, DEM e PV) e à pseudo-oposição de esquerda (PT e PCdoB)”.

Professora do Ensino Superior do Ifma (antigo Cefet), Claudicéa Durans iniciou sua trajetória de militância política no movimento popular e pastoral de juventude no bairro da Liberdade. Na Ufma, ainda como estudante participou do Movimento de Universitários Negros.

Hoje é militante sindical de base filiada ao Sindsep e Sinasefe. Integra ainda o Movimento Negro Quilombo Raça e Classe da Conlutas. É militante do PSTU desde a sua fundação em 1994. Abrigada neste partido disputou as eleições de vereador em São Luís no ano de 2008.

Agora, candidata ao Senado, Claudicéa sabe que vai enfrentar uma disputa desigual: “Os candidatos burgueses contam com amplos recursos e a conivência da imprensa e da Justiça. Essa máquina eleitoral riquíssima que está a seu favor vai desde a compra de votos até a utilização de cabos eleitorais pagos”, afirma a candidata a senadora do PSTU. Nesta entrevista ao Jornal Pequeno, Claudicéa Durans fala sobre suas ideias e propostas:

Jornal Pequeno – Qual a sua expectativa, do ponto de vista político e eleitoral, em relação às próximas eleições de outubro no Maranhão?

Claudicéa Durans – Inicialmente gostaria de esclarecer que todas as candidaturas do PSTU no Brasil e no Maranhão estão inteiramente a serviço das lutas dos trabalhadores. Ao contrário dos outros partidos não somos políticos profissionais que só aparecem no período eleitoral para ludibriar a população com promessas que não irão ser cumpridas, pois estão presos por acordos com grandes empresas e bancos que financiam suas campanhas e depois de eleitos estabelecem contratos de serviços e obras públicas com tais empresas, por isso a elas estão presos política e financeiramente.

Nós do PSTU somos trabalhadores: professores, operários, bancários, servidores públicos, estudantes, ativistas conhecidos das lutas sindicais, estudantis e dos movimentos sociais e populares. Nossas candidaturas são para fortalecer as lutas concretas dos trabalhadores e da juventude, através de um programa socialista de enfrentamento ao governo Lula (PT), a Roseana Sarney (PMDB) e a oposição de direita (PSDB, DEM e PV) e a pseudo-oposição de esquerda (PT e PCdoB).

No campo eleitoral sabemos que vamos enfrentar uma disputa desigual, pois candidatos burgueses contam com amplos recursos e a conivência da imprensa e da justiça. Essa máquina eleitoral riquíssima que está a seu favor vai desde a compra de votos, cabos eleitorais pagos, que diga-se passagem é um absurdo vermos idosos, crianças e os jovens cabisbaixos, balançando bandeiras ou entregando panfletos em retornos de avenidas e praças públicas de São Luís, tentando sobreviver de migalhas, sofrendo humilhações para propagandear políticos de direita que nunca fazem nada em benefício da população. Nossa candidatura será realizada com contribuições dos trabalhadores e com isso temos orgulho de dizer que somos independentes dos patrões e dos governos.

JP – O que representa, no atual cenário político do Estado, a sua candidatura ao Senado da República?

Claudicéa Durans – Pretendemos primeiramente fazer um diálogo com os trabalhadores sobre o que representa o Senado, instituição esta que surge na época do Império (1824), foi inspirada na Câmara de Lordes da Grã-Bretanha, cujos senadores não eram eleitos e possuíam cargos vitalícios. No período republicano o Senado inspirou-se no modelo federalista dos EUA, no qual os senadores representavam os estados e os deputados o povo. Este modelo se configurou no Brasil, os estados têm direito a três senadores e não se leva em conta a quantidade de habitantes de um estado para eleger os representantes.

Cada senador tem um mandato de oito anos, o que equivale o dobro dos deputados. Além disso, essa segunda câmara legislativa controla um orçamento de R$ 3,5 bilhões ao ano. O Senado historicamente no Brasil tem fortalecido as oligarquias, através de esquema político de negociação com o governo federal que tem financiado algumas poucas obras públicas para obter apoio desses senadores nos estados e dessa forma enganam a população, que fica permanentemente grata e comprometida em votar nesses senadores. O Maranhão é um exemplo típico desse acórdão.

Com a política do governo Lula esse esquema foi ampliado, pois figuras como Collor de Melo, Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros ganharam sobrevida nesse governo. Vale lembrar que, há um ano, o Senado foi palco de denúncias de corrupção, nepotismo por meio de atos secretos, desvios de verbas, contratos fraudulentos, a exemplo da Fundação Sarney com Petrobras.

Esta crise teve como principal protagonista Sarney, presidente do Senado, porém as denúncias foram arquivadas, o que mostra por um lado, o verdadeiro caráter de corrupção desta instituição e por outro lado, o papel que teve o governo do PT com apoio do PCdoB nessa política, aliás, todos nós lembramos quando Lula utilizou a mídia em defesa do Sarney, tudo para conseguir o apoio da base aliada (PMDB) à candidatura de Dilma à Presidência da República.

O PT de Lula não levou em conta a opinião da população, cerca de 74% queria o afastamento de Sarney. Também temos percebido que as poucas leis que são propostas em benefício dos trabalhadores têm passado por dois crivos: o primeiro a Câmara de Deputados, o segundo o Senado, daí porque tanto tempo os projetos de lei ficam em tramitação e quando são aprovados no Legislativo saem totalmente desfigurados do projeto original. Então para que duas câmaras com a mesma finalidade? As nossas candidaturas ao Senado pretendem dialogar com os trabalhadores sobre tudo isso e defendemos o fim do Senado por uma única câmara legislativa, além de colocar as nossas candidaturas a serviço da classe trabalhadora.

JP – Quem são os candidatos a suplente de senador em sua chapa? Fale sobre eles:

Claudicéa Durans – Janilde Sousa Santos é professora da rede municipal e estadual de ensino e Valdelino Ferreira da Silva, operário da construção civil. Ambos representam setores importantes da classe trabalhadora.

JP – Qual sua análise da atual representação do Maranhão no Senado? Cafeteira? Mauro Fecury? Sarney?

Claudicéa Durans – O Senado, como já havia afirmado antes, é uma instituição que serve aos interesses das oligarquias e da elite brasileira. No Maranhão estes senhores representam esses interesses. A população maranhense acaba até esquecendo que tem representação nessa instituição, pois não fazem absolutamente nada, só sabemos que eles estão lá quando vemos noticiadas em toda a imprensa denúncias de corrupção como a de Sarney no Senado, que para nós essa prática já é bastante conhecida durante as décadas que esteve à frente do Estado e da Presidência da República. É bom esclarecer que Sarney não é senador pelo Maranhão e sim pelo Amapá, através das manobras que utilizou para se eleger naquele Estado.

JP – Qual sua opinião sobre a questão das minorias, da inclusão social, do racismo e da questão do negro no Brasil e no Maranhão?

Claudicéa Durans – A história da população afrodescendente no país e no Maranhão é marcada pela desigualdade socioeconômica, sustentada pelo preconceito, pela discriminação e pelo racismo. No debate racial deve-se ter como pano de fundo as experiências que tivemos no Brasil e que sedimentaram as relações sócio-raciais. Desta forma deve-se levar em conta o período prolongado de escravidão que durou quase 400 anos em contraste com apenas 122 anos de trabalho livre.

Não podemos esquecer que nós negros construímos esse país e fomos tratados apenas como coisa, objeto por quase quatro séculos, portanto o Estado brasileiro deve a nós uma dívida histórica por não garantir qualidade de vida digna.

Somado a isso fomos vitimas de valores discriminatórios e racistas que até hoje estão presentes no inconsciente brasileiro. É bom lembrar que no trajeto da sociedade a ciência, os intelectuais introjetaram e produziram mitos como da inferioridade do negro, da ideologia da mestiçagem e da democracia, utilizados para nos colocar como cidadãos de segunda classe, inferiores e invisíveis a ponto de não nos identificarmos enquanto grupo étnico e de classe e termos assim, uma identidade desfigurada pela estrutura social.

Esses elementos são fundamentais para entendermos o porquê de nossas reivindicações históricas, a exemplo das lutas do movimento negro por condições materiais que passa pela construção da identidade negra. Sabermos quem somos, para onde vamos, que papel temos na sociedade, são questões fundamentais nessa luta e enquanto tivermos crianças negras em condição de rua, adolescentes e jovens sendo dizimados pela violência, repressão policial, mulheres sendo violentadas, vitimas de violência e do machismo a nossa luta será necessária.

Nesta árdua luta não podemos deixar de registrar Magno Cruz, que precocemente encerrou a sua jornada aqui na terra, mas estará sempre presente em nossa memória, enquanto um referencial no combate à questão social e racial do Maranhão e do Brasil.

JP – Que propostas defende como candidata ao Senado?

Claudicéa Durans – Apesar das conquistas do movimento negro a exemplo da Lei 10.639 que institui o ensino da África e dos afro-descendentes no currículo e as cotas para negros nas universidades, não podemos esquecer que estas conquistas estão sendo ameaçadas, sobretudo com a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, que não passou de um acordo entre o DEM de Demóstenes Torres, a Secretaria da Promoção da Igualdade Racial e o PT.

Este estatuto suprimiu pontos importantes como cotas para negros nas universidades públicas, participação dos negros em partidos políticos que na versão original era de 30% e foi reduzido para 10%; supressão do texto que tratava da regularização de terras para remanescente de quilombo e ainda estabeleceu-se o compromisso do governo em oferecer incentivos ficais às empresas privadas com mais de 20 funcionários que contratem pelo menos 20% de negros em seu quadro de funcionários.

Foram também retirados conceitos clássicos de nossa luta histórica como raça, escravidão e identidade negra sob o pretexto de já ter superado o racismo e que estamos avançando no sentido da democracia na sociedade brasileira. Nós do PSTU acreditamos que uma verdadeira política racial no país deve garantir o direito da titulação de terras aos quilombolas, as cotas nas universidades públicas, o combate ao racismo, pela garantia das condições de vida igual para todos. Discordamos da política adotada pelo governo Lula e de Roseana de segurança, que apenas militariza a política de segurança com a criação da Força Nacional e tem o papel de exterminar a juventude negra das periferias.

Não podemos esquecer um dos piores crimes de racismo no Brasil vivido por Gerô há três anos. Hoje os policiais condenados já estão soltos e alguns foram promovidos no governo Roseana, o que é um absurdo! Exigimos do governo Lula a imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti, que cumprem o papel de reprimir nossos irmãos da América. Acreditamos também que o fato de apenas criar secretarias de promoção da igualdade racial que, diga-se de passagem, sem recursos próprios não resolverá o problema.

JP – Qual a posição do seu partido em relação à sucessão presidencial?

Claudicéa Durans – Acreditamos que as eleições não irão resolver os problemas da classe trabalhadora e participamos dela para apresentar nosso programa socialista para os trabalhadores. A não participação dos trabalhadores nesse processo deixaria os dois blocos burgueses majoritários sem nenhuma contestação. Utilizamos este processo para fortalecer as lutas dos trabalhadores. Neste sentido, nosso candidato a presidente da República, Zé Maria de Almeida, um operário metalúrgico, vem expressar nossa estratégia socialista e a defesa dos trabalhadores.

As experiências com o PT de Lula e o PSDB de Serra já demonstraram para quem estes partidos governam. Para se ter uma ideia, nos oito anos de mandato de Lula as grandes empresas quadruplicaram seus lucros e só em 2009 foram entregues aos banqueiros 380 bilhões. Este valor representa 35% de todo o orçamento nacional, enquanto para a educação no mesmo ano destinou-se 2,88% e para saúde apenas 4,64% do orçamento.

O PSDB por onde tem passado tem valorizado a política de privatizações e congelamento de salários. Marina Silva (PV), por sua vez, não representa nada de novidade. Esteve presente no governo Lula como ministra do Meio Ambiente e em sua gestão houve um considerável aumento do agronegócio, defendeu recentemente o Banco Central no aumento das taxas de juros e tem nada mais que o dono da Natura - Guilherme Leal (13º mais rico do país) - como seu vice. Ele está sendo processado por biopirataria no Acre pelo Ministério Público.

Os trabalhadores precisam ter uma vida digna com educação, saúde e moradias de qualidade. Para isto somos radicalmente contrários ao domínio das grandes empresas e defendemos o não pagamento da dívida interna e externa.

JP – O seu partido, nestas eleições, tem a particularidade de ter uma candidata a vice-presidente da República negra e do Maranhão. Fale sobre isto:

Claudicéa Durans – A professora Cláudia Durans é conhecida no Maranhão e no Brasil por sua atuação no movimento sindical à frente do ANDES – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior pela defesa da universidade pública e valorização do trabalho docente. A sua candidatura expressa a luta do povo nordestino, mulheres e negros contra a opressão.

JP – Como avalias as demais candidaturas ao Senado: Lobão, João Alberto, Vidigal, Zé Reinaldo, Roberto Rocha, Noleto, professor Adonilson etc.?

Claudicéa Durans – Nós do PSTU apresentamos além da minha candidatura, a do companheiro Noleto como alternativas para o Senado. Acreditamos que candidatos como Lobão, João Alberto, Vidigal, Zé Reinaldo e Roberto Rocha representam apenas a continuação do atual modelo de exploração e dilapidação do patrimônio do estado do Maranhão para servir aos interesses do latifúndio e das grandes empresas às custas da humilhação da grande maioria da população maranhense.

Sobre o companheiro Noleto, é um dos fundadores do nosso partido, militante sindical, demitido da Alumar por sua atuação em defesa dos interesses dos trabalhadores, além de ser um defensor contundente da necessidade da revolução socialista.

JP – Qual sua visão sobre a candidatura da governadora Roseana Sarney à reeleição?

Claudicéa Durans – As experiências com os governos de Roseana foram um verdadeiro caos do ponto de vista dos trabalhadores. Viu-se a adoção de políticas privatizantes de importantes empresas como a Cemar, Banco do Estado (BEM), Copema e Emater. O seu governo foi mergulhado em situações de escândalos como o caso da Lunus e da empresa de confecções em Rosário. O Maranhão tem os piores indicadores sociais.

Na área de educação assistiu-se a implantação do tele-ensino, modelo de educação com formação aligeirada para alunos da rede pública em péssimas qualidades, buscava apenas mercantilizar a educação com a TV Globo. O seu governo de fato trouxe lucro para empresas, bancos e enriquecimento da sua família. Aos trabalhadores dedicou-se a ataques principalmente aos professores. Muitos trabalhadores foram demitidos com o aniquilamento e a extinção de empresas importantes que moviam a economia do estado.

A família Sarney é bastante desgastada no Maranhão. Todos nós conhecemos as mazelas deixadas por esta oligarquia que trata o estado como feudo seu, mas se mantém por um lado, através de propagandas midiáticas (é dona de TV, rádio e jornais) e por outro lado pelo PT, que tem como seu vice o ex-diretor do SINDSEP-MA Washington Luiz. Incondicionalmente o PT tenta manter o prestígio desse grupo com a classe trabalhadora, mas está tão desgastado quanto. Tudo isso é um absurdo! Absurdo também é o jingle de campanha de Roseana que, em um trecho diz: “Deus lhe deu outra chance”, como se não houvesse o dedo de seu querido pai na cassação de Jackson para o retorno do controle do Estado.

JP – E as candidaturas ao governo de Jackson Lago, Flávio Dino, Saulo Arcangeli etc.?

Claudicéa Durans – Há uma distorção muito grande no processo eleitoral. As eleições representam projetos políticos e não apenas competência para administrar a máquina do estado. Não se trata de meritocracia, onde alguns “dotados” aprenderam nas academias habilidades e competências para assumir cargos. É claro que a formação é importante neste tipo de processo, mas que tipo de formação? Para que e para quem esta formação está destinada?

Há políticos de direita que aprendem a falar em público sem ter tido nenhum contato com os trabalhadores, aprendem através de cursos de oratória destinado a esse público alvo. Para nós do PSTU nessas eleições é importante, para de fato mudar a situação da classe trabalhadora, um programa de governo que seja o conhecimento da realidade do Estado, mas também aponte saída para que a maioria - trabalhadores, estudantes e desempregados tenham vida digna, não é se atrelando à direita ou à situação como faz o PCdoB de Flávio Dino e o PDT de Jackson Lago para obter vantagens eleitorais.

Já tivemos experiência com a frente ampla que se constituiu no Estado para derrotar a família Sarney, porém essa frente foi apenas eleitoreira, e hoje o PT que fazia parte desse grupo foi de pires na mão compor alianças com Roseana Sarney. Quanto ao Saulo Arcangeli é um companheiro valoroso dedicado às lutas sociais, integra a Conlutas (nossa Central Sindical) nacionalmente.

JP – Qual sua avaliação das recentes pesquisas sobre os candidatos ao Senado e ao governo do Maranhão?

Claudicéa Durans – As pesquisas realizadas no início da campanha eleitoral ainda não expressam o quadro real da sucessão no estado. O grande número de eleitores indecisos demonstra que as eleições estão indefinidas e uma parcela importante dos maranhenses já não suporta ver os nomes dos políticos mentirosos de sempre pedindo novamente o voto.


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