Por Clemilson Totti, de São Luís
O Maranhão possui uma
das estruturas fundiárias, ou seja, distribuição de terras e condições do
trabalhador rural, mais desiguais do Brasil, onde a grande propriedade é
característica marcante deste estado. Esta estrutura está estritamente ligada às
políticas governamentais e as supras estruturas que compõem este estado, um
envolvimento desde a oligárquica e seus partidos a instituições públicas que,
contraditoriamente, acabam representando o latifúndio, o agronegócio.
A lei de terras de
Sarney de 1969 é o marco desse processo. Essa lei vendeu terras do estado para grandes
projetos agropecuários, transferindo imensas extensões territoriais para grupos
empresariais do nordeste, sul e sudeste. Causou, desta forma, a concentração da
terra, viabilizou o agronegócio e limitou a terra aos pequenos camponeses
desarticulando a agricultura familiar no estado. “Sarney reinventou o
latifúndio moderno”.
Outra forma de
transferência de terras do Maranhão para grandes projetos agropecuários foi
através da SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia e SUDENE –
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste que através da política de
incentivos fiscais entregou imensas áreas aos grandes fazendeiros o que acabou
por transformar as terras da pré-Amazônia maranhense e do cerrado em imensas propriedades
improdutivas. Nesse contexto, é o próprio Estado que financia e sustenta o
agronegócio e consequentemente a miséria do camponês maranhense. O
financiamento, a grilagem, a expulsão dos camponeses de suas terras,
assassinatos e ameaças são assegurados aos fazendeiros, como fosse um direito,
pelo estado, pela policia, pelo judiciário e funcionários dos cartórios a custa
da expropriação, exploração e violência. Aos trabalhadores rurais nada são assegurados,
vivem em um estado latente de opressão e exploração, em um estado de grande
injustiça social.
Os dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2006, caracterizam bem como é
desigual à estrutura fundiária do Maranhão e como é desastrosa sua política agrária.
Os dados de 2006 mostram que os imóveis
rurais menores de 10 hectares representam boa parte das propriedades, 47,38%,
porém, ocupam somente 1,37% da área total. Por outro lado, os imóveis acima de
1.000 hectares representam apenas 1, 37% das propriedades e ocupam 36,12% da
área total. Essa estrutura fundiária explica o porquê temos tanta miséria no
campo, por que somos os maiores exportadores de mão-de-obra escrava e por que
temos um número expressivo de mortes e conflitos por terras. E a política
fundiária adotada é uma política para os grandes empreendimentos, para o
agronegócio. É o Estado aliado ao capitalismo monopolista que à luz do
agronegócio entranha no campo maranhense, principalmente no cerrado,
desarticulando a economia camponesa e subjugando os trabalhadores rurais ao
imperativo do capital: exploração.
Os trabalhadores
rurais estão alheios a essas políticas estatais, pois, não entram na lógica de reprodução
do capital. A agricultura familiar não interessa ao mercado internacional já
que não gera a produção ampliada de riqueza, nesse sentido, que o Estado
atuando no interesse do capital intencional a luz do agronegócio, coloca de
lado as necessidades da população camponesa: necessidade de acesso a terra,
regulação de terras (principalmente as terras quilombolas e as RESEX – Reserva Extrativista),
de creditos, de políticas agrícolas, incentivos fiscais, etc. A capitalização
do campo e a subsunção do trabalhador rural ao capital tem conveniência do
Estado burguês.
É nesse contexto que
se desenvolve as lutas e a resistência pela terra no Maranhão, muito importante
para o desenvolvimento camponês e superação das injustiças no campo. É condição
necessária para a reprodução de sua existência e de melhores condições de vida,
ao mesmo tempo coloca em cheque esta sociedade mercantil basilada sobre a
injustiça social.
A superação desde
quadro de injustiça social existente no campo maranhense passa necessariamente
pela reforma agrária que garanta a todos o acesso a terra e condições de sua
reprodução, e isto, necessariamente passa pelo rompimento da lógica do capital.
É a luta organizada dos trabalhadores rurais contra o capital à luz dos
latifúndios que vai garantir a superação desta estrutura agrária injusta, e
construir uma estrutura agrária que garanta a todos o direito de acesso a terra
e justiça social.
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